Todos os trabalhadores são expostos frequentemente aos riscos ocupacionais (físicos, químicos, biológicos e mecânicos) durante as suas jornadas de trabalho, riscos que estão presentes em ambientes de trabalho extremo como, por exemplo, em mineradoras e grandes construções de obras a alguns mais comuns que é o caso dos riscos ergonômicos, encontrados em qualquer tipo de local de trabalho.
A falta de organização, problemas com a iluminação, ruído elevado, procedimentos inadequados no levantamento, transporte e descarga individual de materiais e falta de mobiliário dos postos de trabalho adequado, entre outros fatores, podem causar diversos danos à saúde do trabalhador como, por exemplo, Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).
A Ergonomia é uma ciência que busca “avaliar o ambiente de trabalho e as interações entre o homem e as máquinas ou equipamentos, com o intuito de trazer conforto ao trabalhador, prevenir as doenças ocupacionais e realizar uma boa interação entre o ambiente de trabalho, as capacidades físicas e psicológicas do empregado e a eficiência do sistema”.
No Brasil, a Ergonomia dos ambientes de trabalho é abordada pela Norma Regulamentadora 17 – Ergonomia (NR 17) que tem como objetivo “estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.”
É uma área que os profissionais da Segurança e Saúde Ocupacional (SSO) devem ficar atentos na execução das atividades operacionais desde as mais simples até aquelas que demandam procedimentos específicos. Isto é, é necessário aperfeiçoar conhecimentos sobre técnicas, métodos, equipamentos e tecnologias que ajudam a estudar as relações entre os trabalhadores, seu ambiente e seus instrumentos de trabalho, para se amenizar os riscos ergonômicos.
Os riscos ergonômicos são consideravelmente comuns e neste período de home office ficam mais evidentes e difíceis de monitorar. Isto é, podem provocar mais acidentes de trabalho entre os colaboradores da sua empresa e causar mais problemas para a saúde dos trabalhadores. O conhecimento, treinamento e ações preventivas são muito importantes para a prevenção dos riscos ergonômicos e por isso preparamos este artigo.
O que são os Riscos Ergonômicos?
Os riscos ergonômicos são aqueles que surgem quando um trabalhador realiza sua função e/ou utiliza seus instrumentos em condições inadequadas, situações que podem evoluir para diversos problemas de saúde.
Problemas comuns relacionados a ergonomia
A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (OSHA-EU) mantém uma ferramenta de visualização de dados da SST dos 28 países da Europa denominada de Barômetro de SST. A pesquisa destaca que as principais reclamações ergonômicas dos trabalhadores são a execução de atividades que demandam movimentos repetitivos com as mãos e braços, com 61% dos entrevistados.
Observa-se que outra reclamação comum são os longos períodos na posição sentada, com 58% de evidências, e a permanência em posições cansativas ou dolorosas por muito tempo, com 43%, durante o trabalho como, por exemplo, dos profissionais que atuam no transporte, comércio, serviços financeiros e administração pública.
Ouros fatores relacionados com os riscos ergonômicos e avaliados na pesquisa são a percepção dos impactos gerados por transportar ou movimentar cargas pesadas (32%) e a atividade de levantar ou mover pessoas (10%), atividade relacionada com o envelhecimento populacional dos países que demanda diversos serviços de atendimento ao idoso.
No Brasil, as principais doenças ou problemas relacionados com a Ergonomia enfrentados pelos nossos trabalhadores, principalmente, nas indústrias são as Lesões por Esforços Repetitivos (LER), Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) e Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) Relacionada ao Trabalho.
Ao filtrar dados sobre os benefícios concedidos no Brasil para o período de dezembro de 2018 a fevereiro de 2020 por CID M75 – Lesões do Ombro e M758 – Outras Lesões do Ombro, observa-se que foram mais de 36 mil trabalhadores (16 mil homens e 20 mil mulheres) que solicitaram o Auxílio Doença Previdenciário e o Auxílio Doença por Acidente de Trabalho, demonstrando o impacto social e financeiro dos acidentes de trabalho.
Entre os fatores destacados como principais causas estão as atividades repetitivas nas operações industriais, o levantamento e transporte manual de cargas superiores a 25kg e posturas inadequadas devido ao projeto deficiente das máquinas, equipamentos, postos de trabalho e às exigências da tarefa. Além destes fatores, diferentes pesquisadores também citam que fatores organizacionais (excesso de trabalho, metas, prazos, etc.) e ambientais (calor ou frio, ruído, vibrações, agentes químicos nocivos e iluminação) podem influenciar a saúde mental e física do trabalhador.
Como prevenir os riscos ergonômicos?
A Fundacentro lançou, em 2018, uma versão revisada do manual preparado pela International Labour Office em colaboração com a International Ergonomics Association com soluções práticas e de fácil aplicação para melhorar a segurança, a saúde e as condições de trabalho, baseadas em princípios ergonômicos aplicados em diferentes locais de trabalho.
Os princípios ergonômicos que devem ser aplicados de forma sistemática no ambiente de trabalho são propostos por meio de uma lista de verificação que os profissionais da Segurança e Saúde Ocupacional podem seguir para inspecionar o local de trabalho, construir o checklist da inspeção da SSO, conduzir treinamentos e implantar processos de avaliação e melhoria dos resultados alcançados na área de SSO. As melhores práticas são compiladas para os seguintes pontos de verificação:
- Manipulação e Armazenagem de Materiais
- Ferramentas Manuais
- Segurança do Maquinário
- Design do Posto de Trabalho
- Iluminação
- Instalações
- Substâncias e Agentes Perigosos
- Instalações de bem-estar
- Organização do Trabalho
É uma lista de verificação que permite identificar todos os riscos ergonômicos no ambiente de trabalho e a partir destas informações preparar um plano de ações preventivas. Na análise o profissional tem que considerar que a ergonomia é a adaptação do ambiente de trabalho e de seus instrumentos ao trabalhador e é justamente essas práticas que podem prevenir as doenças dos trabalhadores. A análise ergonômica permite, por exemplo:
- Fornecer cadeiras ajustáveis, com ajuste para altura e para lombar. Diversos tipos de DORT’s podem ser evitadas com um simples cuidado com a postura;
- Em caso de trabalho com computador, teclados, mouses e mousepads ergonômicos são essenciais para evitar a LER;
- Em ambientes com ruídos frequentes, o uso de EPI’s no lugar certo do corpo protegem os ouvidos, face, olhos, mãos, dedos, cabeça, etc.;
Todo trabalhador possui limites que devem ser respeitados, qualquer atividade que obrigue o trabalhador a ficar exposto a um risco físico, biológico, químico ou mecânico, ou pressão psicológica deve ser eliminado ou amenizado.
E para a prevenção ser realizada de forma eficaz, a identificação destes problemas é essencial, por isso os profissionais do SESMT e do PCMSO devem estar sempre atentos a qualquer possível problema físico ou psicológico que os trabalhadores possam vir a apresentar.
É importante aplicar métodos e técnicas ergonômicas que permitam elaborar um diagnóstico mais preciso sobre os níveis de exposição (mecânico, cognitivo, físico, transporte de cargas e organizacional) do trabalhador aos riscos: Checklist OCRA, NIOSH, KIM (LASI), HAL (Hand Activity Level) (ACGIH), The Strain Index Moore-Garg e RULA (Rapid Upper Limb Assessment).
Os trabalhadores são muito mais eficientes se desempenharem suas funções dentro de suas limitações e com isso eles se mantêm saudáveis e com uma boa qualidade de vida, evitando possíveis doenças ocupacionais.
Para finalizar também destacamos que neste período de pandemia da COVID-19 adotar práticas ergonômicas para o home office são fundamentais, pois os trabalhadores estão em muitos casos em casa, tornando a jornada de trabalho mais exaustiva e passam mais tempo na mesma posição, fazendo movimentos repetitivos e carregando peso inadequado, fatores que podem resultar em doenças ocupacionais à curto e médio prazo.