A cada quatro anos o mundo celebra os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, que são assistidos por centenas de milhares de espectadores. E, em 2024 os Jogos Olímpicos estão acontencendo em Paris, cidade que recebeu investimentos para construir obras, incluindo, praças, jardins, parques, estádios, centros esportivos, entre outras instalações.
É um evento que integra culturas, promove o esporte e consolida um período de megaobras executadas para abrigar as competições. Entretanto, existem relatos que muitas vezes o legado e o impacto das megaobras das olimpíadas na Segurança e Saúde dos trabalhadores é negativo.
A Segurança e Saúde do Trabalho (SST) é fundamental para promover na Construção Civil um ambiente produtivo e estabelecer uma visão de “zero acidentes de trabalho”, principalmente, em construções complexas que envolvem um elevado número de trabalhadores, fornecedores e prestadores de serviços.
Para um evento como uma olimpíada relacionar acidentes de trabalho é um ponto negativo que prejudica os organizadores, investidores e grandes marcas que apoiam o evento. Por exemplo, em Paris 2024, os dados oficiais indicam que cerca de 200 trabalhadores sofreram algum tipo de acidente de trabalho ao longo dos 4 anos de Construção Civil.
Executar uma megaobra demanda usar novas tecnologias da construção civil, gerar oportunidades de emprego, melhorar a qualidade de vida da sociedade e de forma negativa quando ocorrem acidentes de trabalho prejudicam as famílias dos trabalhadores.
Os acidentes mais comuns em um Canteiro de Obras são conhecidos como Fatal Four da Construção Civil. Na Construção Civil é possível concluir que os principais tipos de acidentes de trabalho registrados no Brasil, todos os anos, poderiam ter sido evitados, principalmente, nos Canteiros de Obras com uma gestão proativa da Segurança e Saúde do Trabalho.
Uma maneira de evitar acidentes é promover a SST nas megaobras, identificar quais são os acidentes de trabalho mais comuns e como eles ocorrem. Todas essas informações ajudam a prevenir nos ambientes de trabalho e garantir que o prazo da obra e os recursos financeiros, humanos e tecnológicos sejam aproveitados da melhor forma possível.
A seguir, destacamos os impactos do Jogos Olímpicos na sociedade e na SST. Reforçamos a importância de um programa efetivo de ações preventivas de SST e quais são as características relacionadas com a execução das megaobras que devemos considerar no programa de gestão de riscos ocupacionais.
Jogos Olímpicos
Os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos são eventos globais multiesportivos que ocorrem de forma intercalada em modalidades esportivas de verão e inverno. Em 2021, foram realizados os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Tóquio 2020, postergados pela pandemia COVID-19. E, em 2022 ocorreram os jogos de Pequim.
Os Jogos representam uma oportunidade para realizar investimentos na educação, gerar emprego, inclusão social, desenvolvimento tecnológico e construir grandes obras como estádios, ginásios, parques florestais, praças esportivas, obras de saneamento, meios de transportes, prédios residenciais, etc., que a sociedade poderá usar após o encerramento dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos.
A construção da infraestrutura física dos jogos é complexa e executada sob uma supervisão que exige o cumprimento de um cronograma de entrega de obras e o controle do orçamento das construções. Neste contexto, deve existir um compromisso com o planejamento e o gerenciamento dos riscos ocupacionais que todos os trabalhadores envolvidos são expostos ao executar as obras, isto é, com a gestão da segurança e saúde do trabalho.
Um levantamento histórico do número de mortes de trabalhadores nas megaobras das olimpíadas indica que nas Olimpíadas de Londres 2012 não foram registrados acidentes fatais. Já as obras das Olimpíadas do Rio 2016, realizadas entre janeiro de 2013 e março de 2016, causaram a morte de 11 trabalhadores (GLOBO). E, até julho de 2019 nas obras para os Jogos de Tóquio 2020 estavam associados 2 acidentes fatais de trabalhadores (PHYS.ORG).
Durante as construções das megaobras para os Jogos de Tóquio 2020, até 2019, também 14 trabalhadores tinham registrado acidentes de trabalho. É um número melhor quando comparado com os Jogos Olímpicos de Pequim 2022 que registraram 6 mortes de trabalhadores por falta de SST em megaobras na fase final de execução (PHYS.ORG).
Outro exemplo que justifica aumentar a SST nas Megaobras é o número elevado de trabalhadores que sofreram acidentes de trabalho na construção da infraestrutura para a Copa do Mundo de Futebol 2022 e que foi realizada na cidade do Catar, com sete cidades-sede.
O The Guardian revelou que na construção dos estádios da Copa do Mundo 2022 ocorreram 37 mortes relacionadas oficialmente pelo comitê organizador, mas esse número aumenta para 6.500 mortes desde que a cidade foi selecionada para sediar o evento.
A experiência demonstra que apesar da complexidade das obras e exigências dos prazos é possível construir megaobras sem acidentes de trabalho desde que seja executado o trabalho de uma forma segura. Neste caso, é fundamental o papel dos profissionais da Segurança e Saúde do Trabalho (SST).
O monitoramento permanente dos canteiros de obras permite acompanhar a execução segura e as condições de trabalho, exigir que sejam respeitados os períodos de descanso dos trabalhadores, realizados investimentos na SST e treinamentos dos trabalhadores, entre outras ações preventivas.
SST nas Megaobras das Olimpíadas
Os Jogos Olímpicos exigem investimentos elevados na construção, melhorias e adaptações de grandes estruturas físicas como, por exemplo, para os Jogos de Paris 2024, serão montadas e desmontadas 7 grandes estruturas distribuídas em pontos turísticos da cidade que receberão diferentes Jogos.
Para se ter uma ideia apenas o Estádio Olímpico de Tóquio é uma megaobra que passou por uma reforma e recebeu a abertura e o encerramento dos Jogos Olímpicos. O estádio tem a capacidade de receber 68 mil pessoas e na reforma foram investidos cerca de 1,5 bilhões de dólar.
Entre os principais desafios que existem ao construir megaobras estão os prazos estabelecidos e o controle do orçamento. O cumprimento de um cronograma e orçamento pode levar a reduzir os procedimentos mínimos da Segurança e Saúde do Trabalho (SST) necessários para garantir a própria segurança e saúde dos milhares de trabalhadores que participam da construção das megaobras.
O excesso de trabalho e as exigências no canteiro de obras são aspectos que podemos associar ao acidente de trabalho. Aumentar a quantidade de horas de trabalho ou as horas-extras pode provocar um estresse mental, a falta de atenção nas atividades, o cansaço físico, entre outros fatores que aumentam a probabilidade e frequência de acidentes de trabalho.
A imigração do trabalhador atrás de um posto de trabalho nas cidades que executam megaobras também é um fator que a SST deve considerar ao elaborar os programas de treinamento de SST, promover o uso de EPI’s na construção civil, a instalação correta de EPC’s, reforçar as instruções de trabalho e o Diálogo Diário de Segurança (DDS).
A cultura do trabalhador, o perfil educacional e o idioma também são características que determinam o sucesso e a eficácia de qualquer ação preventiva voltada para a SST dos trabalhadores imigrantes. Em nenhuma hipótese um trabalhador, independente da origem regional, deve iniciar o trabalho sem os treinamentos exigidos pelas Normas Regulamentadoras, principalmente, a NR 18 e NR 35, no caso do Brasil.
A medida que o prazo final de entrega das obras se aproxima é comum contratar mais trabalhadores, aumentar as exigências e solicitar mais tempo de mão-de-obra, atitudes que decorrem de falta de controle, eventos climáticos, problemas políticos, ambientais, etc.
Para reduzir a probabilidade de acidentes de trabalho é necessário manter um sistema rígido de controle da saúde do trabalhador, principalmente, porque é comum os trabalhadores executarem as atividades em grandes alturas ou em ambientes com níveis de exposição elevada a queda de altura, máquinas e equipamento, ruído, poeiras, etc.
A Equipe de SST deve implementar um programa constante de prevenção e conscientização sobre o efeito de drogas na saúde do trabalhador, o excesso de álcool ou os cuidados necessários com o uso contínuo de medicamentos relacionados aos distúrbios mentais que influenciam aspectos cognitivos do trabalhador.
É necessário cuidar da saúde dos trabalhadores evitando trabalhos noturnos em condições inadequadas de iluminação ou redobrar a atenção quando é executado o trabalho em campo aberto ou se aproximam condições climáticas adversas. Além disso, independente do horário é necessário controlar os períodos de descanso e promover atividades sociais de integração.
A prevenção de acidentes de trabalho é sem dúvida a maior ação que os profissionais da SST devem incentivar nos canteiros de obras ou locais de trabalho. O cronograma e o orçamento são controlados também investindo em mais segurança e saúde para os trabalhadores.
Ações preventivas também evitam o afastamento do trabalhador do local de trabalho, aumentam a produtividade e reduzem os defeitos ou retrabalhos, desperdícios que provocam de fato o atraso no planejamento e aumentam os custos das megaobras. Para finalizar, a nossa torcida continua para que cada vez mais possamos ter mais saúde e segurança do trabalho em todos os países.