Depressão no Trabalho e suas Causas

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A realidade que estamos vivendo no trabalho (por exemplo, o home office e a uberização), as transformações tecnológicas nos processos de trabalho (plataformas digitais), na sociedade, na economia e na saúde (COVID-19), entre outros fatores que a sociedade moderna nos impõem estão tornando cada vez mais comuns os transtornos mentais relacionados ao trabalho e um deles é a depressão no trabalho.

Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), no ano de 2020, os mercados de trabalho, principalmente, da América Latina e do Caribe, retrocederam pelo menos 10 anos e acumularam mais de 50 milhões de pessoas desocupadas e desempregadas.

A falta de crescimento econômico, oportunidades de emprego, as incertezas em torno da pandemia, as taxas menores de contratação de jovens e mulheres, entre outros fatores, deixam um rastro de alto desemprego (14,1 milhões, no 3o. trimestre de 2020 – IBGE), precariedade laboral (informalidade) é uma preocupação ou pressão psicológica nas pessoas ou trabalhadores no Brasil.

A Dra. em Psiquiatria, Sílvia Jardim, destaca que quando as pessoas se queixam da falta de trabalho, da ameaça de perdê-lo ou das pressões a que se submetem para preserva-lo são sintomas ou reações a um mal-estar denominado de depressão no trabalho.

O trabalho formal, uma profissão, uma carreira, por sua vez, também não são garantia de um presente estável ou um futuro promissor, conforme, citado pela Psiquiatra Silvia Jardim. Desta forma, no ambiente de trabalho a constante cobrança por parte de lideranças, a competitividade, a necessidade de resultados, além de problemas de acidentes de trabalho ou com a saúde ocupacional podem acabar se tornando fatores que provocam distúrbios depressivos em milhões de pessoas no mundo todo.

Relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) destacam que o número de pessoas que vivem com depressão cresceu 18% no período de 2005 a 2015, atingindo mais de 322 milhões de pessoas no mundo, principalmente, as mulheres. No relatório também é destacado que a prevalência da depressão por idade é maior entre os adultos com idades entre 55-74 anos e é uma doença que também ocorre em crianças e adolescentes com menos de 15 anos.

Prevalência Global de Distúrbios Depressivos por Idade e Sexo (%) – Fonte: OMS (2017).

A pandemia de COVID-19 é um evento que também vem agravando o aumento significativo de sintomas de depressão nos trabalhadores, conforme destacado pela FIOCRUZ. Os impactos na saúde mental decorrem a partir das mudanças bruscas na vida e no trabalho que estão relacionadas com o tempo, isto é, “uma ausência de limites entre trabalho e vida pessoal e o entrecruzamento do trabalho com as atividades domésticas”. Além disso, os espaços físicos foram transferidos para os ambientes virtuais e as condições laborais impostas pelo home office.

Em outra entrevista realizada por um especialista em psiquiatria, Dr. José Galluci Neto, também é ressaltado que os sintomas de depressão aumentaram, especialmente, nas mulheres que alteraram as suas rotinas de trabalho, conciliando as atividades laborais com a educação, alimentação, brincadeiras ou cuidados com os filhos, os afazeres domésticos, relações sociais, entre outras mudanças.

Do atual cenário da saúde e economia ficam algumas lições aprendidas como, por exemplo, é necessário preservar a saúde do trabalhadores e a atividade econômica, porque, conforme, a própria OIT sem saúde não há produção nem consumo. Isto é, a Segurança e Saúde no Trabalho (SST) são fatores-chave para uma retomada econômica, a oferta de oportunidades de emprego para o trabalhador e, principalmente, cuidar da saúde dos trabalhadores nos ambientes de trabalho.

Levando em conta que o trabalho, assim como, as condições inadequadas do trabalho, a falta de medidas preventivas no ambiente de trabalho, entre outros aspectos relacionados com a SST se tornaram causas da depressão, caracterizada como uma doença ocupacional, é de suma importância que isto seja abordado dentro dos assuntos de SST, por isso tratamos sobre esse tema, a seguir.

O que é depressão no trabalho e quais são as causas? 

Pesquisadores, na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, destacam que os sintomas centrais da depressão são: os “transtornos de humor; interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as atividades; perda ou ganho significativo de peso quando não está realizando dieta ou diminuição ou aumento no apetite; insônia ou hipersonia; agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sensação de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada; capacidade diminuída para pensar ou concentrar-se, ou indecisão”.

Também a psiquiatria associa a depressão com “a tristeza sem motivo justificável, o desânimo, o desinteresse pela vida e pelo trabalho, a irritabilidade, a inapetência e a insônia. O sentimento de vazio, de falta de sentido na vida e de esgotamento caracterizam os casos mais graves, chegando às ideias e tentativas de suicídio. Outro aspecto importante da depressão é o silêncio, a dificuldade de falar que o deprimido apresenta”.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) a depressão é um transtorno mental, identificado por características como: Mudanças no humor; Sentimentos de culpa e baixa autoestima; Perda de interesse em atividades e hobbies; Privação de sono ou sonolência; e, Distúrbios de apetite.

A OMS também aponta que a depressão atinge 5,8% da população brasileira (11.548.577). Pesquisas realizadas pela Universidade de São Paulo (USP) também destacam que a maior prevalência de depressão é na região Sul (4,1% de risco) e o menor risco é na região Norte do Brasil. Os episódios depressivos podem ocorrem tanto na população urbana (4,2%) como rural (3,4%). Entretanto, as mulheres (5,6%) tem duas vezes mais chances de apresentar distúrbios depressivos quando comparado com os homens (2,5%).

Ao considerar a idade é observado que a maior probabilidade de desenvolvimento de distúrbios depressivos estão nas pessoas com idade acima de 80 anos (6,8%), seguidas por pessoas com 50-59 (5,4%), de 70-79 (5,1%), 40-49 (4,4%), 30-39 (3,6%) e entre 18-29 anos (2,8%). Além disso, a depressão prevalece em pessoas com menos anos na escola: 0 anos (6,3%), 1-8 anos (5,4%), 9-11 anos(4,0%) e maior ou igual a 12 anos com 2,8% de chances.

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Um grande problema que a OMS também aponta é o não reconhecimento da depressão como uma doença. Infelizmente, em muitos casos, a depressão é encarada apenas como um momento de tristeza, fato que interfere na busca por ajuda especializada.

Além disso, o investimento em políticas públicas voltadas para o tratamento de doenças como a depressão é relativamente baixo. Na América Latina, a estimativa é de que 2% do orçamento da saúde é destinado ao tratamento destas doenças. 

Quais são as causas?

Por se tratar de um distúrbio da saúde mental, levando em conta que condições psicológicas são muito pessoais e variam de pessoa pra pessoa, não é simples identificar uma causa específica para a depressão.

Diversos fatores biológicos e psicológicos podem ser a causa para a depressão, podendo até ter uma causa hereditária. O que se sabe é que a depressão pode ser desencadeada por um episódio de grande estresse, no entanto, mesmo após o fim deste episódio os sintomas persistem.

E apesar de ser difícil identificar uma única causa, alguns “gatilhos” podem acabar se tornando um estopim para este problema, alguns deles são:

De acordo com o Ministério da Saúde, estudos mostram que o cérebro do indivíduo deprimido pode apresentar alterações químicas em neurotransmissores como a serotonina, substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células. 

A Agência Europeia para a Segurança e Saúde do Trabalho (EU-OSHA) reuniu provas de uma correlação entre os riscos psicossociais e o estresse no trabalho e seus impactos na saúde mental dos trabalhadores, isto é, desenvolvimento da depressão no trabalho.

O relatório destaca que as exigências quantitativas, a influência negativa no trabalho, a falta de possibilidades de desenvolvimento, de apoio social dos supervisores e colegas de trabalho e a insegurança no trabalho, isto é, riscos psicossociais provocam sintomas depressivos graves ou de um episódio depressivo grave. Outros exemplos de riscos psicossociais relacionados as condições de trabalho e citados pela EU-OSHA são:

  • Carga de trabalho excessiva;
  • Exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções;
  • Falta de participação na tomada de decisões que afetam o trabalhador e falta de controle sobre a forma como executa o trabalho;
  • Má gestão de mudanças organizacionais, insegurança laboral;
  • Comunicação ineficaz, falta de apoio da parte de chefias e colegas;
  • Assédio psicológico ou sexual, violência de terceiros.

Psicólogos e Docentes da Universidade Estadual Paulista (UNESP – Bauru/SP) também citam fatores ocupacionais que podem ser ligados a depressão ocupacional como, por exemplo, a exposição aos riscos ocupacionais, frustações e experiência angustiantes vividas no trabalho, a falta de reconhecimento de pessoas ou grupos que fazem partes das suas relações sócio-profissionais, o estresse, o esgotamento e a falta de prazer e satisfação no exercício profissional.

A depressão no trabalho: como prevenir? 

A depressão no trabalho é um assunto de saúde ocupacional e para a Segurança e Saúde do Trabalho demanda mais medidas preventivas e cuidados além dos equipamentos de segurança e de estrutura física nas empresas. É necessário construir um ambiente de trabalho que contribua para a qualidade de vida, reduza o estresse e seja preparado para uma abordagem correta dos riscos psicossociais.

Diversas situações no trabalho podem influenciar no quadro depressivo, as principais são estresse, a cobrança exagerada sobre tarefas e tarefas que o trabalhador não se sinta confortável em fazer, entre outros.

O primeiro passo é compreender que a depressão no trabalho é uma doença ocupacional e que seus funcionários podem apresentar eventos, sintomas ou desenvolver a doença. E, independente da situação é necessário respeita-los, desenvolver ações preventivas, estabelecer medidas corretivas e cuidar deles para reduzir os impactos na própria saúde ou atitudes mais drásticas.

Uma pesquisa de clima organizacional é um bom meio para identificar fatores que contribuem para a depressão no trabalho. É uma prática que permite verificar, por exemplo, qual a percepção dos colaboradores sobre as tarefas que executam, sua remuneração e a relação com os líderes e demais colegas.

Os profissionais da Segurança e Saúde do Trabalho devem desenvolver programas efetivos que permitam identificar os fatores de riscos ocupacionais, fatores de riscos de estresse externo ao ambiente de trabalho, assim como, os impactos na saúde do trabalhador e no ambiente de trabalho. Também é possível fortalecer e desenvolver a resiliência emocional dos trabalhadores para enfrentar os desafios sócio-profissionais relacionados ao trabalho e vida fora do local de trabalho.

É essencial que a área de SST se comunique estritamente com a área de recursos humanos, pois estas devem construir um plano que inclua assistência para colaboradores com depressão laboral. O planejamento de uma Gestão de Riscos Ocupacionais (GRO) deve considerar:

  • Desenvolver um Programa de Gestão do Estresse;
  • Ações que visem manutenção do bem-estar no trabalho;
  • Avaliação e melhoria contínua do ambiente de trabalho;
  • Promover e manter programas de saúde mental do trabalhadores, principalmente, em momentos de crise;
  • Desenvolver Programa de Controle de Doenças Ocupacionais;
  • Aplicação e constante avaliação da cultura organizacional;
  • Incentivo e prática de feedbacks;
  • Treinamento e desenvolvimento de funcionários com cursos, formações e especializações;
  • Investimento em planos de saúde;
  • Se possível ter um psicólogo da empresa através do SESMT;
  • Apoio para buscar ajuda profissional caso seja preciso;
  • Respeito com o funcionário que está em tratamento.

Para alcançar bons resultados nas medidas propostas para enfrentar a depressão no trabalho recomenda-se também a participação dos trabalhadores, alta direção, profissionais da área de Segurança e Saúde do Trabalho e profissionais especializados no tema. Além disso, promover um estilo de vida com saúde, uma educação alimentar, promover o consumo responsável de álcool e prevenir o consumo de drogas.

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