Impactos das Mudanças Climáticas na Segurança e Saúde do Trabalho

Segurança do Trabalho em Tempos de Mudança Climática

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As mudanças climáticas estão cada vez mais provocando impactos na sociedade. E, é necessário que a segurança e saúde dos trabalhadores seja reforçada para evitar o surgimento de doenças ocupacionais e o registro de acidentes de trabalho.

Os eventos climáticos extremos, principalmente, os relacionados com o calor e a atividade laboral no ambiente ao ar livre com uma elevada exposição ao sol – vem sendo associados por diversas agências e pesquisadores com diferentes doenças do trabalho como, por exemplo, a Dermatite Ocupacional, o Câncer de Pele, entre outros.

O monitoramento da temperatura realizado pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climático (CPTEC) demonstra que a temperatura média do Brasil vem aumentando em diversas regiões. Observa-se que ao projetar variações da temperatura média nos próximos anos ocorre um fenômeno de elevação das temperaturas mínimas (frio) e máximas (calor).

As mudanças provocam a necessidade de adaptar nos próximos anos práticas de proteção e prevenção da saúde e segurança do trabalhador. Observa-se que em todo o Brasil, no mês de julho, a temperatura média foi de 22,97°C, ou seja, um desvio de 1,04°C acima da média histórica, colocando o recente julho como o mais quente já registrado no Brasil desde 1961.

Figura (a) – Distribuição Geográfica de Acidentes de Trabalho (SmartLab) / (b) Climatologia e (c) Desvio de Temperatura média do ar em 2023, em °C, para o mes de julho. Período de Referência: 1991 – 2020. Fonte: INMET.

É necessário que os profissionais que atuam na Segurança e Saúde do Trabalho conscientizem os empregadores sobre a necessidade de criar planos para proteger os trabalhadores do desenvolvimento de doenças relacionadas ao calor. Além disso, é evidente a necessidade de adaptar ou revisar os métodos de trabalho, a organização do trabalho e monitoramento da segurança e saúde do trabalhador.

A saúde do trabalhador ou a manutenção da temperatura corporal interna saudável em um ambiente quente depende da capacidade do corpo se livrar do excesso de calor, ou seja, dissipação de calor. A dissipação de calor ocorre naturalmente por meio da transpiração e do aumento do fluxo sanguíneo para a pele. E, os trabalhadores esfriam mais rapidamente se o calor externo (ambiental) e a atividade física (calor metabólico) forem reduzidos (OSHA).

Entre os sintomas que podem ser associados a exposição do calor extremo estão a sede, irritabilidade, erupção cutânea, cólicas, exaustão pelo calor ou insolação. Problemas da saúde do trabalhador que devem ser evitados com medidas preventivas e com cuidados administrativos e de controle de riscos ocupacionais. Veja a seguir as principais recomendações que podemos adotar!

Impactos das Mudanças Climáticas na SST

As pesquisas científicas demonstram que os eventos extremos climáticos (tempestades tropicais, inundações, ondas de calor, seca, incêndios florestais associados, nevascas, furacões, tornados e tsunamis) são decorrentes do aquecimento global ou aumento da temperatura média do planeta.

E, além dos graves impactos na sociedade, na flora e fauna ou ecossistemas naturais, o crescimento da frequência dos eventos extremos climáticos vem provocando a exposição dos trabalhadores as mais adversas condições de trabalho inseguras.

Para a Agência Europeia de Segurança e Saúde no Trabalho (OSHA-EU), as alterações climáticas trazem desafios para as atividades econômicas relacionadas com a agricultura e a silvicultura. Ainda, cita que o aumento das temperaturas e da frequência dos eventos climáticos extremos exige a avaliação dos riscos emergentes e a adaptação das práticas de trabalho como, por exemplo, para evitar a exaustão devido ao calor e a exposição a poeiras e doenças.

O relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em 2018, pelo órgão das Nações Unidas (UNEP), projeta um aquecimento global de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e cita que as principais causas são as atividades humanas como, por exemplo, as atividades industriais e transportes, a queima de combustíveis fósseis (derivados do petróleo, carvão mineral e gás natural) para geração de energia, a conversão do uso do solo, agropecuária, o descarte de resíduos sólidos (lixo) e o desmatamento.

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Para a ONG WWF-Brasil, no Brasil, as mudanças do uso do solo e o desmatamento são responsáveis pela maior parte das nossas emissões de dióxido de carbono (CO2) e fazem o país ser um dos líderes mundiais em emissões de gases de efeito estufa.

As mudanças nas áreas de vegetação florestal vem acontecendo, principalmente, por atividades como agropecuária e geração de energia e conforme observamos no mapa vem aumentando ao longo dos anos.

Evolução da Cobertura e Uso da Terra do Brasil – Fonte: INDE (2021)

É estimado que os riscos relacionados ao clima para a saúde, meios de subsistência, segurança alimentar, abastecimento de água, segurança humana e crescimento econômico aumentem com o aquecimento global de 1,5°C. O relatório do IPCC também destaca que ilhas de calor urbanas frequentemente amplificam os impactos das ondas de calor nas cidades, fenômeno climático que pode ser associado ao crescimento da morbidade e mortalidade relacionadas ao calor.

O calor é um grande risco para a saúde dos trabalhadores que trabalham nos ambientes externos. Pode causar desidratação, exaustão e insolação, e pode até resultar em perda de consciência e um ataque cardíaco em circunstâncias extremas. Exigir o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) em condições extremas de calor é um procedimento particularmente desafiador visto que aumenta o esforço e o estresse do trabalho (OSHA-EU).

A agência americana de Segurança e Saúde do Trabalho (OSHA) destaca que trabalhadores expostos as condições de calor e umidade extrema também correm o risco de doenças relacionadas ao calor. O risco de doenças relacionadas ao calor aumenta à medida que o clima fica mais quente e úmido. Esta situação é particularmente séria quando o calor aumenta repentinamente no início da estação quente e os trabalhadores tem dificuldades para se adaptar a temperaturas elevadas.

Estudos também mostram que o estresse que as mudanças climáticas causam em trabalhadores como, por exemplo, os agricultores e silvicultores, está ligado a problemas psicológicos como transtornos de ansiedade, transtornos do humor, estresse e depressão. Da mesma forma, medo, desespero, suicídio, aumento do uso de drogas e mortes relacionadas ao calor têm sido associados a mudanças climáticas adversas (OSHA-EU).

Outros exemplos de trabalhadores que ficam expostos ao calor e passam a maior parte do tempo ao ar livre são os trabalhadores da construção civil, carregadores de bagagens, trabalhadores que atuam nas atividades de transmissão, geração e distribuição de energia, manutenção de grandes equipamentos, jardins, etc. Para a OSHA outros fatores que contribuem com a exposição é a execução das atividades sob a luz solar direta, adicionando até 9ºC ao índice do calor, tempo de execução das atividades e o próprio uso de roupas pesadas.

Ações Preventivas para os Trabalhadores

A OSHA destaca que a maioria das fatalidades dos trabalhadores ao ar livre, 50% a 70%, ocorrem nos primeiros dias de trabalho em ambientes quentes nos quais o corpo precisa desenvolver uma tolerância ao calor gradualmente ao longo do tempo. O processo de tolerância de construção é chamado de aclimatação ao calor. A falta de aclimatação representa um importante fator de risco para desfechos fatais.

Entre as principais medidas preventivas para reduzir os impactos das elevadas temperaturas na segurança e saúde do trabalhador estão consumir líquidos adequados (água e bebidas esportivas), trabalhar em turnos mais curtos, realizar e controlar pausas frequentes e identificar rapidamente quaisquer sintomas de doenças causadas pelo calor.

Para qualquer trabalho realizado ao ar livre e com a exposição do trabalhador aos raios solares é importante adotar um procedimento de controle da temperatura ambiente e corporal. Com essas informações será possível adotar ações preventivas mais eficientes e adequadas para a saúde e segurança do trabalhadores.

Índice de CalorNível de RiscoMedidas de Proteção para os Trabalhadores
Menor que 32 °CBaixo (Cuidado)Segurança e Planejamento para Fornecer um Aquecimento Básico
De 32 °C até 40 °CModeradoImplementar medidas preventivas e aumentar a consciência de proteção do calor
De 40 °C até 46 °CAltoAdicionar medidas de prevenção para proteger os trabalhadores
Acima de 46 °CExtremoAcionar medidas de proteção mais eficiência e permanente com os trabalhadores
Índice de Calor – Fonte: OSHA (2021)

Outras medidas administrativas da Segurança e Saúde do Trabalho estão relacionadas com, por exemplo, treinamentos dos supervisores e trabalhadores para desacelerar a atividade física quando estão expostos ao calor extremo, reduzir as velocidades de movimentação manual ou programar o trabalho pela manhã ou turnos mais curtos, com pausas frequentes para descanso na sombra ou pelo menos longe de fontes de calor. Os supervisores podem encorajar os trabalhadores em ambientes quentes a beber líquidos. No mínimo, todos os supervisores e trabalhadores devem receber treinamento sobre sintomas relacionados ao calor e primeiros socorros.

As doenças relacionadas ao calor podem ter um custo substancial para trabalhadores e empregadores. As doenças causadas pelo calor podem contribuir para a diminuição do desempenho, perda de produtividade devido a doenças e hospitalização e, possivelmente, morte. E, para finalizar reforçamos a necessidade de incentivar o fornecimento de água, intervalos de descanso e locais com sombra como prevenção, bem como tratamento para doenças relacionadas ao calor (OSHA).

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