No dia 14 de abril celebramos o Dia do Profissional de Técnico em Serviço de Saúde. E, em 2021, é um trabalhador ou profissional que devemos homenagear a coragem e agradecer a dedicação, responsabilidade e atitudes tomadas para enfrentar e combater a pandemia do COVID-19. E, uma forma de agradecer é continuar desenvolvendo e implementando medidas preventivas de segurança e saúde do trabalho que garantem um ambiente de trabalho mais seguro para os próprios profissionais da área da saúde.
Desde 2015, as agências brasileiras que regulamentam a SST também utilizam o mês de abril como referência para promover campanhas de conscientização da segurança e da saúde do trabalhador, eventos conhecidos como Abril Verde. A campanha Abril Verde também é uma forma de homenagear o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, celebrado no dia 28 de abril de cada ano e estabelecido a partir da Lei N° 11.121/2015.
Promover um ambiente de trabalho seguro para os profissionais da saúde é uma ação que também se soma ao enfrentamento da crise de saúde global que estamos vivendo, visto que são esses profissionais que cuidam de nós quando somos contaminados pela COVID-19, sofremos um acidente de trabalho ou somos acometidos por outras doenças que afetam a nossa saúde.
Os profissionais que atuam como técnicos em serviço de saúde são responsáveis por 29% dos postos ocupados em diferentes atividades no ambiente hospitalar e são distribuídos nas áreas de Enfermagem, Radiologia, Laboratório, Saúde Oral, Nutrição, Fisioterapia, Hematologia, Citologia, Histologia, Equipamentos Médico-hospitalares, entre outras. É um grupo expressivo de trabalhadores que precisam do nosso apoio, reconhecimento, valorização e atenção.
A falta de um profissional nessas atividades gera um impacto negativo para a melhoria da nossa própria saúde e uma das nossas preocupações é o número elevado de mortes de enfermeiros por COVID-19 que voltou a subir nos últimos meses. Dados do Observatório de Enfermagem indicam que desde o início da pandemia perdemos 773 profissionais e apenas em 4 meses de 2021 foi registrada a perda de 306 vidas de profissionais que estavam na linha de frente prestando serviços para a população.
Para reduzir a taxa de letalidade (Total de Casos Reportados / Total de Óbitos de Profissionais) de 2,58% dos profissionais da saúde no Brasil a SST precisa reforçar as medidas de proteção e impor medidas preventivas para evitar acidentes de trabalho, controlar a taxa de contaminação dos profissionais e evitar com que o índice de letalidade continue subindo no país.
Todos os esforços são necessários para sair e superar essa crise mundial que afeta a vida de toda a população. E, nós acreditamos que uma forma de agradecer ao profissional da área da saúde é continuar divulgando informações sobre quais são as ações que podem ser conduzidas nos ambientes de trabalho do ponto de vida da Segurança e Saúde do Trabalho.
Heróis da Pandemia
O número crescente de vítimas entre os trabalhadores da área da saúde, especificamente, Enfermagem, com 773 óbitos, associado ao número elevado de casos registrados, com 53.849 profissionais, chama a atenção porque demonstra que mesmo as pessoas com experiência sobre hábitos de higienização das mãos, uso da máscara, uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) podem se contaminar. Isso é um alerta para a população porque mesmo os “heróis da pandemia” se contaminam e é necessário reforçar a necessidade de continuar com campanhas de conscientização sobre as medidas de proteção, principalmente, uso da máscara e distanciamento social.
Uma análise mais detalhada demonstra que as regiões com mais casos de contaminação registrados são a Região Sudeste com 35,28% do total e a Região Nordeste com 27,14%. Por outro lado ao considerar a taxa de letalidade chama a atenção a Região Norte porque é a região com o menor número de casos registrados, 8,46% do total, porém é a segunda região com mais óbitos com cerca de 27,55%, atrás da região Sudeste com 28,07%.
Também observa-se que a distribuição de casos de contaminação está concentrada entre os profissionais de 31 a 40 anos com mais de 22 mil casos. E, para os casos de óbitos a maior frequência ocorre com os profissionais acima de 41 anos até 60 anos, totalizando 441 pessoas. São estatísticas que demonstram uma evolução da média móvel de casos de Profissionais de Enfermagem e acendem um alerta para os órgãos da saúde e profissionais da SST de continuar melhorando as medidas preventivas adotadas no ambiente hospitalar, promover mais conscientização dessas pessoas e reforçar a importância da vacinação.
Pesquisas realizadas pela Universidades Federal do Rio Grande (UFRG) demonstram que os principais impactos da pandemia com os Profissionais da Saúde estão associados a sobrecarga de serviços, escassez de recursos humanos e materiais como, por exemplo, EPI’s, incerteza da eficácia de tratamentos utilizados para combater a infecção e ainda preocupações relacionadas com a própria saúde e a de seus familiares e pacientes.
Além disso, são profissionais que também lidam com informações falsas provenientes das redes sociais. Os autores da pesquisa reúnem os principais traumas que os “heróis da pandemia” enfrentam como, por exemplo, a síndrome burnout, medo, fadiga, menor satisfação no trabalho, distúrbios do sono, depressão, ansiedade, insônia, sofrimento moral e elevados níveis de estresse, podendo desenvolver distúrbios mentais de curto e longo prazo (Ramos-Toescher et al., 2020). Fatores que já eram frequentes no ambiente hospitalar e que com o surgimento da pandemia vem potencializando as Doenças Mentais dos profissionais da área da saúde.
Apesar de todas essas situações ou fatores inerentes ao ambiente de trabalho os Profissionais da área da Saúde continuam na “linha de frente” no combate ao COVID-19. São pessoas ou trabalhadores que estão expostos a diferentes riscos ocupacionais e propensos a desenvolver elevados níveis de estresse e existe uma probabilidade muito grande de um estresse pós-traumático que comprometerá o seu próprio bem-estar social e mental. Portanto, são heróis da pandemia que além de uma homenagem é necessário pensar nas medidas de proteção nos ambientes de trabalho.
Para os heróis da pandemia as principais implicações da pandemia COVID-19 são relacionadas com os seguintes fatores: Alta demanda de atendimento, Exposição prolongada em ambientes críticos, Risco contínuo de infecção, Equipamento de proteção individual (desconforto, limitações na mobilidade e comunicação, efetividade e escassez), Gerência do sofrimento de pacientes e familiares, Falta de contato com a família, Conflitos interpessoais, Pensamentos recorrentes sobre a epidemia; e relacionados a morte e ao morrer, Estigma por trabalhar com pacientes com COVID-19 e Desmistificação de notícias falsas constantemente (Ramos-Toescher et al., 2020; Barros et al., 2020).
Proteção dos Profissionais da Área da Saúde
A seguir, destacamos medidas que podem ser associadas ao uso de EPI’s, distanciamento social, higienização das mãos e vacinação, e colocadas em prática para tornar a atividade do profissional da saúde mais segura. É um conjunto de ações que podem reduzir os impactos negativos da pandemia e foram reunidas a partir dos trabalhos científicos realizados por pesquisadores da UFRG e do Centro Universitário de Juazeiro do Norte (UNIJUAZEIRO). Entre as principais estratégias reunidas para apoiar a atuação dos profissionais da saúde estão (Ramos-Toescher et al., 2020):
- Atender às necessidades básicas: alimentar-se, hidratar-se e dormir regularmente para otimizar sua capacidade de cuidar de si e dos outros;
- Evitar hábitos prejudiciais – Cuidado com o uso abusivo de tabaco, bebidas alcoólicas e outras drogas como forma de fugir da angústia;
- Respeitar o tempo: faça pausas, permitir-se fazer algo não relacionado ao trabalho que considere reconfortante, divertido ou relaxante. Atividades de descanso, exercícios físicos e relaxamento são importantes aliados contra o estresse e ansiedade;
- Criar uma rotina de trabalho e autocuidado: procurar realizar atividades prazerosas e significativas, isso ajudará o dia a acontecer de um jeito mais organizado e tranquilo;
- Permanecer conectado com sua rede sócio afetiva: conecte-se com familiares, colegas e amigos (eles são uma âncora de apoio fora do sistema de saúde), dê e receba apoio, reduza o sentimento de isolamento;
- Manter-se atualizado: confiar em fontes confiáveis de informação, cuidado com o excesso. Participe de reuniões de trabalho onde informações relevantes são compartilhadas;
- Auto check-ins: monitorar ao longo do tempo em busca de sintomas de depressão ou transtorno de estresse: tristeza prolongada, dificuldade para dormir, lembranças intrusivas, desesperança. Converse com um colega, supervisor ou procure ajuda profissional, se necessário;
- Praticar a Resiliência – Refletir sobre as dificuldades enfrentadas e o que pode aprender com elas, ressignifique sua experiência. Retome estratégias de enfretamento já utilizadas em crises anteriores;
- Manter a fé e atividades religiosas e/ou espirituais, caso façam parte de sua rotina;
- Buscar um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional: Informar quanto a disponibilidade de serviços em saúde mental destinados aos profissionais.
Além disso, é importante melhorar a organização das escalas de plantões e quando viável diminuir a carga horária de trabalho excessiva (Barros et al., 2020). Todas essas ações garantem um ambiente de trabalho mais saudável e seguro, reduzindo o esgotamento físico dos profissionais da área da saúde. Todas as práticas devem estar associadas ao levantamento de riscos ocupacionais e monitoradas constantemente para continuar contando com os poderes (cuidados da saúde dos pacientes, carinho, atenção, empatia, etc.) dos nossos “heróis da pandemia.”
A Equipe OnSafety registra nosso agradecimento ao Profissional da Área da Saúde!!
